segunda-feira, 16 de julho de 2007

Alento


"Violão esquecido em um canto é silencio,
coração encolhido no peito é desprezo,
solidão hospedada no leito é ausencia,
a paixão refletida em um pranto é tristeza.
Um olhar espiando o vazio é lembrança,
o desejo trazido no vento é saudade,
um desvio na curva do tempo é distancia e um poeta que acaba vadio é destino.
A vida da gente é mistério,
a estrada do tempo é segredo,
o sonho perdido é espelho,
o alento de tudo é canção,
o fio do enredo é mentira,
a história do mundo é brinquedo,
o verso do samba é conselho e tudo o que eu disse é ilusão."

Paulinho da Viola

sexta-feira, 29 de junho de 2007

A Palavra


... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.

Pablo Neruda


*Butifarra: espécie de chouriço ou lingüiça feita principalmente na Catalunha, Valência e Baleares. (N. da T.)

domingo, 24 de junho de 2007

Cronologia da Vida (Charles Chaplin)


"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como elatermina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida estátodo de trás pra frente. Nós deveríamos morrerprimeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo,até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo.Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poderaproveitar sua aposentadoria.Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade.Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando....E termina tudo com um ótimo orgasmo!!! Não seria perfeito?"




Charles Chaplin



 
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